O alfabeto latino, também conhecido como alfabeto romano, é o sistema de escrita mais utilizado no mundo, seu alcance geográfico cobre todo o continente americano e a Oceania, grande parte da África e da Europa, e partes da Ásia. A instalação desse alfabeto se deu naturalmente junto dos processos de colonização e introdução dos idiomas em povos distintos; muitos povos anteriores tinha alfabetos e formas de escritas próprias que se perderam com o tempo. Alguns desses alfabetos não latinos, porém, se mantiveram intactos e são utilizados até hoje; a maior parte em países que não foram colonizados ou pelo menos não pelas principais nações européias. Nesse post trazemos alguns deles, com informações sobre os alfabetos e projetos tipográficos interessantes que envolvam esse alfabetos.

Devanagari

O nome Devanágari deriva de duas palavras da língua Sânscrita: deva, que significa Deus, celestial, e nāgarī, que significa cidade. O nome é traduzido para “Escrita urbana dos deuses”, ou “Escrita da cidade de Deus”. Esse alfabeto existe desde o oitavo século e é usado na maior parte das línguas da Índia e do Nepal, incluindo o Hindi e o Sânscrito. Suas letras também tem acentos, e seus textos são lidos da esquerda pra direita, assim como no nosso alfabeto, mas suas consoantes não são mudas por padrão; quando são escritas sozinhas já vem acompanhadas do som da vogal “A”, e devem ser acompanhadas de outras letras para trocar a vogal em sua pronúncia. Essa característica dá um efeito interessante ao alfabeto: as palavras são lidas exatamente como são escritas. 2006ab7440_sangrahani_sutra1 A fonte Vesper, criada pelo designer Rob Keller como projeto do mestrado de Tipografia na Universidade de Reading, foi inspirada e baseada no alfabeto Devanágari. Não só a fonte conta com 4 pesos no alfabeto Hindi, mas também o desenho das letras romanas tem elementos estilísticos análogas aos do outro alfabeto.

latin-deva

Árabe

É muito comum encontrar, nos países que usam o alfabeto árabe, placas e publicações que não usam vogais; isso acontece por que esse é um alfabeto consonantário, ou abjad, em que o maior peso da escrita está nas consoantes, a ponto de poderem, no dia a dia, remover as vogais. Em documentos formais e acadêmicos as vogais são usadas, mas em situações do dia-a-dia palavras como qalb (coração) e qalab (ele se virou) se escrevem como qlb. Sinais diacríticos podem ser usados para indicar a presença de uma vogal antes ou depois da consoante, bom como se essa vogal é curta ou longa; mas de modo geral, até esses sinais podem não existir, o que torna os alfabetos árabes mais complexos ainda para aqueles que não dominam a língua do texto. 53852587.MaldivesNov051338 A designer Nadine Chahine junto do tipógrafo Prof. Hermann Zapf já expandiu três fontes da Linotype, Palatino, Palatino Sans e Zapfino, traduzindo suas formas e características para o alfabeto árabe. Dessas três, a Zapfino Arabic chama mais atenção; suas formas combinam dois tipos de caligrafias tradicionais e seu processo de criação durou dois anos e foi compartilhado com o público, que dava feedback para as etapas de produção, a razão disso vem da preocupação da designer em saber que o público aceitaria a nova proposta caligráfica e reconheceria a forma icônica da Zapfino. ZapfinoArabic01

Hebraico

Mais extremo ainda com as consoantes é o alfabeto hebraico, que não tem nenhuma vogal, apenas as 22 consoantes, os sinais diacríticos e letras de finalização (variações das consoantes usadas quando elas aparecem no final da palavra). Os sons de vogais curtas só são sinalizados em livros infantis e para aprendizado da língua, poesias e na bíblia, outros textos só indicam a presença de vogais longas. Suas frases e textos são escrito em linhas horizontais, como no alfabeto latim, mas da direita pra esquerda. O alfabeto era o mais utilizado pelo povo hebraico nos anos A.C., mas foi aos poucos sendo substituído pelo Aramaico. No século XIX D.C. houve movimentos que buscavam a valorização do alfabeto, torná-lo novamente uma linguagem comum e incluir seu uso em escolas e no dia-a-dia; hoje em dia mais de 5 milhões de pessoas usam a língua e seu alfabeto, inclusive em países como Argentina e Brasil. 131359-004-42FB7512 A artista Victoria Hanna lançou em 2014 um vídeo que explora a língua hebraica, seu alfabeto, formas e pronúncias enquanto interpreta significados e elementos da cultura judaica. O resultado é uma produção rica e bem cuidada, que nos mostra fragmentos desse universo.

– Estes três alfabetos são só a ponta do iceberg; a variedade de sistemas de escrita que existem é enorme e muito rica, estando mais próxima de nós do que imaginamos. Observando esses alfabetos podemos nos inspirar, aprender, explorar alternativas e mudanças da nossa própria caligrafia e modo de ler e ver (existem artistas e designers que usam o alfabeto japonês e sua orientação vertical para propor descontruções em trabalhos ocidentais). Mais importante e enriquecedor que isso tudo, porém, é poder ver essa variedade como prova da vontade e capacidade humana de se comunicar e se adaptar para continuar comunicando. Tem sugestões ou algum fato que queira comentar ou discutir conosco? Mande uma mensagem para nós, comente aqui ou na nossa página do Facebook. Estamos sempre abertos para ouvir suas opiniões, sugestões e ideias.

Até a próxima!

Referências

https://en.wikipedia.org/wiki/Devanagari http://www.omniglot.com/writing/devanagari.htm http://www.ancientscripts.com/devanagari.html http://www.avashy.com/hindiscripttutor.htm https://theravadaforall.wordpress.com/2011/07/13/a-escrita-devanagari-alfabeto-nepales-hindi-marathi-sanscrito-e-pali/ http://www.bbc.co.uk/languages/other/arabic/guide/alphabet.shtml http://www.jewfaq.org/alephbet.htm http://www.omniglot.com/writing/hebrew.htm http://www.omniglot.com/writing/arabic.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Abjad

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