Entrevistamos o type designer Jefferson Cortinove e perguntamos um pouco sobre a criação de algumas fontes com inspiração em Florianópolis.
Jefferson é professor de Tipografia no Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE, type designer na SeaTypes, poeta e também possui um estúdio de Design chamado Charlotte, no qual são desenvolvidos principalmente trabalhos editoriais e identidades visuais. É formado em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com mestrado em Comunicação pela Universidade de Marília.
O interesse pela tipografia
A relação com a tipografia começou cedo, influenciado pelo pai que era tipógrafo. Já na universidade, cursando Artes Plásticas, interessou-se por algumas disciplinas extras, como Tipografia e Artes Gráficas e percebeu que suas poesias ficariam mais interessantes com um certo cuidado com a tipografia, o que foi o pontapé para mudar a sua área para o design gráfico. Por volta de 1999 começaram seus primeiros esboços e tentativas de letras, mas a primeira fonte surgiu apenas em 2007, seguida em 2011 pela participação em um calendário alemão, o Typodarium, dando visibilidade ao trabalho.

Em 2013 surge a SeaTypes, criada por Jefferson Cortinove e pelo publicitário Márcio Duarte, operando desde 2007 no desenvolvimento de fontes. Eles trabalham no desenvolvimento de tipografias inspiradas pelo conceito funcionalista com grande influência de elementos naturais, especialmente o mar.
O processo criativo
Jefferson conta que o processo criativo é mais casual e dá-se a partir da primeira ideia, que ele considera a fase de incubação, para depois partir para uma fase de ampla pesquisa, na qual descobrem se algo já não foi desenvolvido com a mesma ideia anteriormente. Em seguida definem o conceito do projeto, levantando referências imagéticas e textuais, partindo para os esboços no papel, no qual são desenvolvidos os caracteres principais, e só depois é que começa o processo de vetorização e finalização do projeto. Sobre as referências utilizadas na criação – ele diz que, apesar de serem muitas, o grande detalhe que alinha tudo é o mar.
Utilizando como exemplo a FloriGryphos, que surgiu como ideia em uma caminhada pelas trilhas da Praia do Santinho (conhecida pelas inscrições rupestres presentes lá), para conhecer os petróglifos; parte desses petróglifos Jefferson encontrou expostos sem identificação alguma, numa pedra no caminho. Assim, fotografou a inscrição, já pensando que seria interessante registrar esse patrimônio também por meio de uma fonte que possuía esses petróglifos como inspiração – surgindo assim a fonte FloriGlyphos.

A fonte Nautikka possui como referência as proporções matemáticas das ondas e alto mar, a Cambirela surgiu de uma das viagens até Brusque, observando as montanhas, e a Elancho, ainda não finalizada, é uma tipografia vernacular com inspiração num letreiro exposto na Lagoa da Conceição, que chamou à atenção de Jefferson pelo espacejamento dos caracteres.


“A Poesia Visual sempre esteve presente, não como inspiração para produção. mas sim na utilização e exploração das diferentes formas de aplicação da Tipografia; o poema visual permite mostrar toda a expressividade do tipo, e com a quebra do sistema ocidental de leitura posso criar novas possibilidades de leitura para o mesmo texto.”

Mercado Tipográfico
Perguntamos também o que Jefferson, como profissional, acha do mercado da tipografia em Florianópolis e no estado. Ele diz que, apesar de ser um mercado em expansão, a tipografia ainda é uma prática pouco conhecida e valorizada no país. Tanto o desenvolvimento como a compra das fontes são muito pequenos se comparados a outros países. Como dica para alguém que queira trabalhar na área, ele sugere aprimorar constantemente o desenho vetorial.
Para saber mais sobre tipografia
Jefferson recomenda alguns sites e livros que podem ajudar quem está começando.
Sites
http://www.typophile.com/
http://ilovetypography.com/
http://www.fonts.com/content/learning
Livros
BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. São Paulo. Cosac Naify, 2005. 428p.
HENESTROSA, Cristóbal. Cómo crear tipografias. Madrid. Tipo e, 2012. 144p.
Fotos: SeaTypes e Cort9.